
. Klimt, Gustav. Tree of Life.
A tua pele, Alice,
é qualquer coisa entre o gosto que ferve de meus olhos
e os corpos que chovem lá fora.
é como o chacoalhar deste carro,
que trepida entre a vontade de velocidade
e o desejo puro da morte.
é como o refluxo azul da vida perdida.
tua pele, Alice, encerra mais que o mistério de cem mil ondas.
Tua pele grita a distância do mundo desejado, Alice,
um mundo em que tua pele se despiria de qualquer altar,
em que nenhum poema patético como este
se ergueria sob a ausência de tua pele.
um mundo aonde teus olhos, e até a mais ínfima mecha de cabelo
trariam em si a poesia roubada por tua pele.
Porque tu és, Alice, não esta parte-alvo de meu poema;
mas a respiração de cada momento íntimo
que silencia tua eterna santificação,
teu eterno pertencimento vivo.
O mundo futuro, Alice, aonde pele-carne-sangue
não me sejam mais que a pele morta dos poemas passados,
do endeusamento putrefato de uma vida tão doída...
A tua pele, Alice, rouba a poesia que
pertence aos homens.