domingo, 27 de setembro de 2009

A tua pele, Alice...


. Klimt, Gustav. Tree of Life.

A tua pele, Alice,
é qualquer coisa entre o gosto que ferve de meus olhos
e os corpos que chovem lá fora.

é como o chacoalhar deste carro,
que trepida entre a vontade de velocidade
e o desejo puro da morte.



é como o refluxo azul da vida perdida.

tua pele, Alice, encerra mais que o mistério de cem mil ondas.

Tua pele grita a distância do mundo desejado, Alice,
um mundo em que tua pele se despiria de qualquer altar,
em que nenhum poema patético como este
se ergueria sob a ausência de tua pele.

um mundo aonde teus olhos, e até a mais ínfima mecha de cabelo
trariam em si a poesia roubada por tua pele.

Porque tu és, Alice, não esta parte-alvo de meu poema;
mas a respiração de cada momento íntimo
que silencia tua eterna santificação,
teu eterno pertencimento vivo.

O mundo futuro, Alice, aonde pele-carne-sangue
não me sejam mais que a pele morta dos poemas passados,
do endeusamento putrefato de uma vida tão doída...


A tua pele, Alice, rouba a poesia que
pertence aos homens.