sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Quanto tempo há de se estender
a chuva entre o espasmo
breve mas também aflito
do calçamento que reveste
a rua-edifício que agrupa o
precipício desinteressado de nossos sonhos
de santos e deuses e trilhos?

Certa vez um homem distante,
outra vez o tédio da xícara vazia
sempre e sempre e sempre
a chuva entre o espasmo
breve
mas também aflito
de calcificar nossos olhos do velho castanho
da rua ao precipício
do norte ao belo cadáver empoeirado
do até logo ao sempre e
sempre
comido e vociferado
pelos dentes internos ao homem.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Você partindo de nossa experiência incalculável
de dor e sinceridade
tal qual um navio deslizando fundo sem âncora alguma
pelo vermelho luminoso da baia.

Marcela, quando tinha onze anos,
escolheu outro par para dançar.
Por muito tempo remoí minha existência
triturando carnes de açougue e lágrimas
ante a impossibilidade dos passos.

Por muito tempo Marcelas me impediram
o beijo o tato a pele
ante a estátua fixa de meus amigos belos e fortes
e mais risonhos do que eu.




(eu)

Para sempre estive só.
Para sempre minha cama um abismo.
Para sempre nos poemas a fraqueza dos meus encontros raros,
a ampliação do momento da troca – às vezes tão pobre;
entre meus olhos de presa e os olhos de lança.

Eu por vezes também faço caças.
brinco de belo forte risonho
e procrio o jogo do meu peito nu.

eu também me nego às danças.
eu também rio da estupidez sentimental alheia

eu não sou livre.

E mais uma vez você partindo.
Eu-humilhação-pública
De um norte pequeno-burguês mudo,
não aceitando a viagem, a perda,
o teu desejo.




eu para sempre.





EU
EU
EU EU

EU
eu eu
eu.


O enxame do mesmo e monótono EU
ESTILHAÇADO, calado, ridículo


o eu que não usa chapéus como Whittman
que não sublima perante Péret.

o EU do conhaque a cem por hora e vinte minutos.
(e você partindo, me deixando na sala azul com um punhado de amigos belos fortes risonhos para encontrar outro amigo belo forte risonho)


não existem espelhos
- já se sabe –
para o ventre interno.



nem mesmo a poesia
basta.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

esperando desesperado a tua ausência.
meu gosto de me fantasiar de tua vida.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

carta desesperada

Anita
a poesia perdeu para a fome.

(meus olhos fixos divididos
entre
o preço do açúcar
e
a manhã convulsiva de teus cachos)

Anita, todos os dias eu acordo entretido.
Todos os dias eu leio a boca dos burgueses da cidade de São Paulo.
Quatroze de junho do ano de dois mil e dez, Anita,
e eu não consigo pensar em nada que não o preço do açúcar.

O preço do açúcar, Anita!
melhor seria o teu gosto creme,
tuas omoplatas em fúria,
tua lingua vermelha destravada!

Pensar ao menos na tua falta.
no teu corpo deitado manso chiando um blues.

mas as bocas me resvalam:
a saudade não se mede em reais, rublos ou dólares:
não é tempo de saudade, mas de pensar no preço do açúcar.

O preço do açúcar, Anita, mas não, nem isto:
qualquer resto que sacie a minha carne.
não engulo ônibus, prédios ou parques vazios.

(Não esquecer: os supermercados são desertos de excesso.)

A capital do país urra:
É terminantemente proibido comer!
Qualquer cidadão apanhado em estado de greve será fuzilado de fome!

Dinheiro.
que indelicadeza tratar de dinheiro numa carta!
mas acontece, Anita,
que sem carne não há saudade e nem vida.
e acontece mais, Anita,

A poesia perdeu para a fome.

ps: (antes do beijo e da despedida, espera, Anita):
intuo que da pedra fiz um verso.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Escala meus músculos a minha fragilidade.
minhas pernas se armam de tontura
e os ônibus me rompem arranha-céus na coluna fixa e suspensa sobre os bancos.

Uma lágrima plasmada ou uma navalha seca,
uma folha em retalhos ou um beijo:
adolescência de versos natimortos.

a pureza das crianças infernais,
o mal-me-quer abrupto e denso das cortinas escancaradas
ou a marcha brilhante da nação:
escarro branco-propaganda.

O amor é sujo.
O amor é a serie infinita de cigarros incendiados a sós num apartamento.
Conhaques revirados nas omoplatas,
O amor é sujo.

Nada de delícias invernais,
Sacrossanto virgem e despautério
O amor é a greve que grita greve.
A ocupação da vaga silenciosa,
o mínimo do mínimo entre uma carne e outra.

Tua boca acuada num canto esperando o abate de minha boca.
Teus dedos evaporando de delírio.
O suspense e o toque que acordará os olhos.
Minha alma subindo, crescendo mastigada até o topo de teus cabelos.
Uma parte de ferro deixando uma parte de vida.

Sim, sim, o amor é sujo.
Um quarto de sarjeta,
O amor é rua.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Canção

Um beijo descompacto,
caucasiano de nervura
mulato de presença.

minha carne tua unha
que de tanto respirar se adensa

Um fluxo plasmado em tua boca
parte feia parte triste
se ruísse Berenice
ai de quem disser
bem-que-te-disse!

domingo, 6 de junho de 2010

pulando minha retina
__________________um cen
_______________________________sor
___celebra






: ciúmes do imaginado.
___________________________________________________________________________