terça-feira, 21 de setembro de 2010

Você partindo de nossa experiência incalculável
de dor e sinceridade
tal qual um navio deslizando fundo sem âncora alguma
pelo vermelho luminoso da baia.

Marcela, quando tinha onze anos,
escolheu outro par para dançar.
Por muito tempo remoí minha existência
triturando carnes de açougue e lágrimas
ante a impossibilidade dos passos.

Por muito tempo Marcelas me impediram
o beijo o tato a pele
ante a estátua fixa de meus amigos belos e fortes
e mais risonhos do que eu.




(eu)

Para sempre estive só.
Para sempre minha cama um abismo.
Para sempre nos poemas a fraqueza dos meus encontros raros,
a ampliação do momento da troca – às vezes tão pobre;
entre meus olhos de presa e os olhos de lança.

Eu por vezes também faço caças.
brinco de belo forte risonho
e procrio o jogo do meu peito nu.

eu também me nego às danças.
eu também rio da estupidez sentimental alheia

eu não sou livre.

E mais uma vez você partindo.
Eu-humilhação-pública
De um norte pequeno-burguês mudo,
não aceitando a viagem, a perda,
o teu desejo.




eu para sempre.





EU
EU
EU EU

EU
eu eu
eu.


O enxame do mesmo e monótono EU
ESTILHAÇADO, calado, ridículo


o eu que não usa chapéus como Whittman
que não sublima perante Péret.

o EU do conhaque a cem por hora e vinte minutos.
(e você partindo, me deixando na sala azul com um punhado de amigos belos fortes risonhos para encontrar outro amigo belo forte risonho)


não existem espelhos
- já se sabe –
para o ventre interno.



nem mesmo a poesia
basta.

4 comentários:

  1. Gostei muito de suas poesias e de seu blog.
    Grande abraço e sucesso!

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  2. é doloroso dizer que eu me identifico.

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  3. ai, a nossa experiência incalculável de dor e sinceridade...


    Tão bonito.

    Quem dera eu pudesse fazer isso com meus pesadelos também...

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  4. experiência incalculável...
    da qual a poesia é ciência.

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